Vibre de felicidade: seu brinquedo erótico agora tem conserto
Oficina que decidiu apostar em reparos de vibradores encontrou um nicho de mercado que abrange todo o País
Por Nathalia ZiemkiewiczQuatro anos atrás, Bartolomeu Queiroz de Alencar recebeu uma encomenda diferente. Debruçado no balcão de seu Pronto Socorro das Bonecas, onde há mais de vinte anos conserta e restaura brinquedos infantis, ele demorou a entender o constrangimento do cliente. “Trouxe um produto eletrônico com defeito e queria saber se tem como arrumar”, disse o rapaz. “Claro. Passe para cá: dou uma olhada agora mesmo”, estendendo a mão. Brinquedo era. Mas fálico daquele jeito, só podia ser coisa de adulto.
O técnico de 49 anos, que nunca tinha segurado um vibrador nem de “brincadeira” com a mulher, abriu o pênis de borracha com receio. Minutos depois, encontrou o fio solto que impedia o máximo aproveitamento dos recursos tecnológicos. Por apenas R$ 5, Bartolomeu (ou Bartô, como é conhecido) o devolveu pronto para uso. Como o fato não lhe saía da cabeça, entrou em contato com várias sex shop para oferecer o serviço e descobriu uma demanda: pelo menos 10% dos produtos importados apresentam falhas.
A partir daí, vibradores de todos os tamanhos, formas, cores e texturas foram se acumulando nos fundos da oficina e no porta-malas do carro. “O pessoal tirava sarro, minha mulher estranhava… Mas isso foi só até o dinheiro entrar”, diz o empreendedor. Com a renda familiar ampliada, o “bico” inusitado virou coisa séria. Há um ano e meio, ele criou o site Hospital dos Vibradores e Acessórios Sexuais para atender o público final.
Os pedidos, do País inteiro, chegam por via postal para avaliação. Se o orçamento for aprovado, o cliente efetua o depósito e recebe o produto consertado alguns dias depois. Um reparo simples (num vibrador com preço em torno de R$ 100) custa R$ 18.
VIBRADOR “DA AMIGA”
As mulheres são bem mais envergonhadas e enrolam para dizer o que querem. Bartô conta que elas ligam pedindo informações, mas quase sempre dizem que é o vibrador de “uma amiga”. A solteira Luli* é exceção. Aos 32 anos, essa empresária do Rio de Janeiro enviou de uma só vez quatro brinquedos necessitados de manutenção. “Eles são frágeis e quebram à toa. Eu tinha uns cinco ‘encostados’ e ia comprando novos. Mas, como no Brasil eles estão cada vez mais caros, compensa procurar conserto”, diz.
A encomenda dela, assim como as demais, saiu do pacote dos Correios para a lavagem e esterilização com álcool. É só depois desse processo que os três funcionários deixam de lado os braços partidos de bonecas e carrinhos sem rodas e focam-se em destrinchar glandes. Um dos problemas mais comuns são peças de motor enferrujadas, quase sempre porque a dona se aventurou com ele na banheira e provocou um curto circuito.
Vez ou outra eles se reúnem na tentativa de desvendar o funcionamento eletrônico – e sexual – do aparelho. “Tem coisa tão maluca que a gente nem sabe pra que serve”, diz Bartô, que se considera “mente aberta”. Tanto que morreu de rir quando um cliente ligou agradecendo porque ele aumentou o diâmentro de um brinquedo. “O motor quebrou e não tinha um equivalente. Coloquei um maior e ele ligou para dizer que tinha ficado melhor”.
As bonecas infláveis causam menos polêmica que as próteses penianas na oficina. Para achar furos nelas, são postas em uma banheira d’água, o mesmo método usado em borracharias para o conserto de pneus. Bartô, que já apimentou o casamento de 26 anos com alguns produtos – mas não se tornou um grande fã -, está satisfeito com a clientela conquistada. “O interessante é que eu não saí do meu ramo: o que é isso senão um brinquedo de adulto?”